Muitas são as crianças que entrando no ensino primário se debatem com dificuldades de leitura e escrita. E, passam muitas vezes por um processo complexo de aprendizagem de competências linguísticas, cognitivas e também sensório-motoras.

Ainda assim, essas dificuldades são geralmente o culminar de lacunas que vêm surgindo ao longo do desenvolvimento das competências base da leitura e escrita.

Assim, estimular desde cedo é essencial e pode estar à distância de:

  • Uma folha branca
  • Livros de histórias escolhidos pela criança
  • Folhetos ou revistas
  • Brinquedos
  • Jogos e atividades que a criança goste
  • Músicas e lengalengas

São nesses momentos de partilha, no conjunto de todos os estímulos, no contacto, na relação com o outro, que é possível:

  • Favorecer o desenvolvimento da linguagem e, por conseguinte, o conhecimento e identificação dos sons da fala que, mais tarde, irão dar-lhe representação gráfica através das letras
  • Desenvolver a motricidade fina com o desenvolvimento de competências manuais imprescindíveis para o controlo adequado do lápis
  • Desenvolver competências de perceção visual que permitirão à criança ler o que está no quadro, fazer uma cópia à distância ou organizar um texto na folha.

Estamos, portanto, a enriquecer as competências necessárias e fundamentais para a aprendizagem da leitura e escrita e, assim, prevenir eventuais dificuldades aquando a entrada para o 1º ciclo.

Porém, as dificuldades poderão ainda assim surgir. E, nestes casos, é ainda mais importante ajudar as crianças a explorar e a procurar novas razões para ler e escrever mas de uma forma divertida! Por exemplo ao ajudar nas tarefas domésticas escrevendo a lista das compras, ao ler uma receita de um bolo delicioso para o lanche ou ao interpretar o papel do professor e ler uma história para a sua família.

Dificuldades de leitura e escrita: O que são afinal?

São perturbações do neurodesenvolvimento que dificultam a capacidade de aprender ou utilizar competências académicas específicas de leitura e escrita. As mesmas são a base fundamental para as restantes aprendizagens escolares.

Estas dificuldades surgem independentemente do nível intelectual da criança e da sua motivação.

E a Dislexia, Disortografia, Disgrafia e/ou Discalculia, fazem parte das dificuldades de leitura e escrita? Perceba melhor de seguida.

1 – Dislexia

A Dislexia é considerada uma Perturbação Específica de Linguagem. Assim apresenta etiologia neurobiológica e afeta a aprendizagem e utilização instrumental da leitura. O principal destaque vai para as lacunas fonológicas, independente do quociente de inteligência ou condições educativas.

É, portanto, imprescindível que o diagnóstico de Dislexia seja obtido e analisado através de uma avaliação multidisciplinar. Só a partir do 2.º ano de escolaridade é possível estabelecer efetivamente o diagnóstico.

Características da criança com dislexia que deve estar alerta:

  • Lacunas ao nível da consciência fonológica;
  • Dificuldades na evocação, definição de palavras e no reconto de histórias;
  • Dificuldades em corresponder adequadamente o grafema (letra) ao fonema (som) e na discriminação auditiva dos sons da fala;
  • Alterações na leitura: lenta, com baixa expressividade e com pouco ritmo.

2 – Disortografia

Tal como a Dislexia, considera-se a Disortografia também como uma Perturbação Específica da Aprendizagem de origem neurobiológica.

A mesma tem impacto na palavra pelo conjunto de erros de escrita, sem alterações no traço ou grafia.

Tratam-se, portanto, de dificuldades na organização, estruturação e composição de enunciados escritos, através da construção de frases curtas e pobres com variados erros ortográficos.

Características dos erros ortográficos sentidas nas crianças com disortografia:

  • Linguístico-percetivo: omissões de letras, adições de fonemas, sílabas ou palavras, inversão de letras na palavra
  • Visuoespacial: substituição de letras visualmente semelhantes ou que se diferenciam pela sua posição no espaço; escrita de palavras em espelho, omissão da letra H
  • Erros na escrita através do ditado, na escrita livre ou até em cópia, referente às regras de ortografia: por exemplo na pontuação e acentuação
  • Relativos ao conteúdo: dificuldade na fronteira de palavras (junta ou separa palavras inadequadamente)

3 – Disgrafia

Quanto à Disgrafia, esta é uma perturbação relacionada com a execução gráfica e de escrita das palavras, de tipo funcional.

Afeta, portanto, a qualidade da escrita ao nível do traçado ou grafia, com caligrafia desviante à norma, letras pouco diferenciadas, mal construídas e desproporcionais, a tipicamente considerada como “letra feia”.

Sinais de alerta observáveis em crianças com disgrafia:

  • Desorganização espacial na folha e/ou desorganização do texto
  • Postura gráfica incorreta (má pega e utilização do lápis ou caneta)
  • Caligrafia exageradamente grande ou pequena
  • Letras distorcidas ou inclinadas que tornam a escrita irreconhecível
  • Traçado desproporcionado e grosso que pode até vincar o papel, ou demasiado suave e impercetível
  • Escrita de letras ou números pelo traçado inverso (de baixo para cima
  • Escrita demasiado rápida ou lenta
  • Erros e borrões

4 – Discalculia

Relativamente à Discalculia, é considerada como uma desordem neurobiológica específica com impacto na compreensão e manipulação de números. A mesma afeta assim as competências de matemática.

São verificadas estas dificuldades na compreensão de enunciados dos problemas, no tempo excessivo que precisam para decidir a operação a realizar (soma, subtração, divisão, entre outros) e noutros casos na incapacidade de finalizar uma operação simples.

É de ressalvar que estes sinais podem não estar associados à preguiça, desmotivação ou desinteresse.

Características a que se deve estar atento, nos casos de discalculia:

  • Dificuldades nos conceitos de medidas, na aprendizagem das horas e na compreensão do valor do dinheiro
  • Dificuldades nas contagens de números
  • Alterações na identificação de números e na compreensão de quantidades ou símbolos
  • Inaptidão para correspondência recíproca, por exemplo na associação de um número à contagem de objetos

Assim, quais os sinais a que devo estar atento?

Embora o diagnóstico só possa ser realizado após o início da escolaridade, é possível detetar fragilidades já no período pré-escolar.

A intervenção precoce permite que a criança ultrapasse mais facilmente as suas dificuldades. Assim é muito importante um olhar muito atento a alguns sinais, tais como:

  • Início tardio da linguagem
  • Dificuldade na produção de alguns sons
  • Dificuldades nas rimas, lengalengas e canções infantis

No 1º ciclo, é fundamental que os pais estejam atentos a alguns sinais de alerta, que podem revelar indícios de dificuldades de leitura e escrita formal, tais como:

  • Trocas gráficas de letras ou em fazer a adequada relação grafema-fonema (letra-som)
  • Dificuldades em identificar e autocorrigir os erros/trocas escritas
  • Leitura lentificada (silabada, com manipulação oral dos sons e/ou seguir com o dedo…) ou demasiado rápida
  • Dificuldade na compreensão do enunciado lido, em recontar ou responder a perguntas de interpretação
  • Alterações na entoação da leitura (por vezes até monocórdica) e em respeitar os sinais de pontuação
  • Leitura global das palavras ou por adivinhação tendo em conta o contexto das frases
  • Dificuldade em escrever textos com encadeamento de ideias por ordem dos acontecimentos e/ou em desenvolver um tema
  • Alterações linguísticas (tanto ao expressar-se como em compreender, ao nível dos vários domínios: como sintaxe, morfologia, fonologia, pragmática e semântica)
  • Escrita ilegível
  • Lentidão na execução das tarefas de escrita e/ou grande cansaço durante as tarefas de escrita
  • Dificuldades no desenho das letras, espaçamentos e/ou pobre organização na página
  • Dificuldade em fazer cópias do quadro e/ou em seguir a leitura de um texto (ex. perde-se na folha)

Quem pode ajudar?

Consideramos fundamental o trabalho em equipa (família, professores, Terapeuta da Fala, Terapeuta Ocupacional, Psicólogo…) nas dificuldades de leitura e escrita adequadas às necessidades das nossas crianças.

O Terapeuta da Fala intervém nas alterações dos sons da fala bem como nas dificuldades linguísticas e de leitura e escrita, com etiologias distintas, entre elas as perturbações específicas da linguagem, as perturbações fonológicas, as perturbações de aprendizagem, entre outras.

O Terapeuta Ocupacional intervém ao nível das dificuldades de escrita manual que poderão ter como base alterações de motricidade fina e global bem como dificuldades ao nível da perceção visual.

O Psicólogo colabora no processo de avaliação cognitiva e neuropsicológica, que contribui para uma caracterização mais detalhada das dificuldades, intervém ao nível do desenvolvimento das competências de planeamento, organização e memória, bem como nas dificuldades emocionais e comportamentais que, por vezes, acompanham as dificuldades de leitura e escrita.

Estar alerta e atento é essencial, pois permite um rastreio atempado e um acompanhamento precoce. Para nós é crucial desenvolver planos personalizados direcionados para as reais dificuldades de leitura e escrita de cada criança.

Qualquer questão conte connosco!

Autores: Terapeuta da Fala Vânia PaulaTerapeuta Ocupacional Margarida Sabino e Psicóloga Isabel Santos.

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