Conhecer a pessoa com doença de Alzheimer…
A doença de Alzheimer é complexa e implica diversas alterações, nomeadamente ao nível da linguagem e alimentação.
Esta é a forma mais comum de demência, constituindo entre 50% a 70% de todas as doenças degenerativas e progressivas.
Com o aumento da esperança média de vida, prevê-se que os casos de Alzheimer aumentem de forma significativa nos próximos anos.
Se não conhece esta doença, ou se quer saber um pouco mais sobre a mesma, conheça-a de seguida.
Doença de Alzheimer: O que é?
A doença de Alzheimer carateriza-se, de uma forma resumida, por alterações neuropsicológicas.
As mais predominantes são perturbações de memória, linguagem, reconhecimento e da escrita. A par destas existem também alterações do comportamento, ansiedade, depressão, agressividade e alucinações.
É uma doença neurodegenerativa progressiva, com múltiplas etiologias e que converge para a perda neuronal.
A nível neuropatológico pode observar-se a presença de atrofia cerebral, placas senis no cérebro, novelos neofibrilares, entre outros.
A idade em que a doença de Alzheimer começa a desenvolver-se é muito variável e a sua evolução pode ser lenta ou rápida.
Quais são as suas principais causas?
A sua etiologia assume uma multiplicidade de fatores, desde fatores genéticos a fatores ambientais. Os mais comuns são:
- Alterações do metabolismo cerebral
- Idade
- Presença de historial familiar de Alzheimer
- Traumatismos cranianos
- Existência de pelo menos uma cópia do alelo Apo-E4 no cromossoma 19
- Síndrome de Down (trissomia 21)
- Hipertensão arterial sistólica
- Baixo nível educacional
Estes são alguns dos fatores de risco descritos na literatura.
Por outro lado, a existência do alelo Apo-E2 ou E3 no cromossoma 19, níveis educacionais altos, o uso de estrogénios e de fármacos anti-inflamatórios são sugeridos como fatores protetores.
Estádios da doença de Alzheimer
Existem 3 estádios associados a esta doença. Conheça-os melhor de seguida.
1 – Estádio Inicial (leve)
- Redução do desempenho nas Atividades de Vida Diária (AVD’s), trabalho, lazer, atividades sociais e no controlo das finanças
- Dificuldade ao nível da memória recente como lembrar o nome das pessoas que conheceu nos últimos tempos, recados, compromissos recentes
- Perda de fluência no discurso com anomias (dificuldade em evocar o nome de algo) e parafasias (troca de palavras)
- Ligeira dificuldade de compreensão
- Desorientação espacial e temporal
- Irritabilidade, ansiedade, oscilações de humor e depressão
2 – Estádio Intermédio
- Dependência nas AVD’s e agressividade
- Delírios sistematizados de roubo, infidelidade e perseguição
- Alucinações auditivas e visuais
- Nomeação/compreensão comprometidas e repetição de ideias
- Discurso com parafasias, neologismos (palavras inventadas) e dificuldade em manter o tópico
- Apraxia (alteração no planeamento e programação de atos motores voluntários)
- Perturbação do ritmo sono-vigília
3 – Estádio Final
- Todas as áreas linguísticas comprometidas
- Ecolalia (repetição de palavras ou frases anteriormente memorizadas/ouvidas) ou mutismo (ausência de linguagem)
- Alterações na interação
- Agnosias (incapacidade para reconhecer ou identificar objetos)
- Não reconhecimento de pessoas e lugares
- Agitação contínua, deambulação ininterrupta ou apatia
- Disfagia com risco de aspiração e pneumonias
- A marcha, o sentar, o controlo de cabeça e o sorriso social tornam-se cada vez mais difíceis
- Dependência total
Geralmente o alerta é dado com a presença das falhas de memória, que familiares e amigos mais próximos detetam.
No entanto, as alterações podem ser tão subtis que a família atribui o esquecimento à idade.
As alterações linguísticas (como afasia) e ao nível da alimentação (como disfagia e/ou a presença de apraxia bucofacial) são atividades da área de intervenção do Terapeuta da Fala.
A importância da deteção precoce da doença
Ao nível da Linguagem, a pessoa com Alzheimer começa a ter dificuldades na procura de alguma palavra durante o discurso espontâneo e, quando solicitada, apresenta dificuldade em nomear objetos e ações.
A conversação mostra-se vazia ao nível do conteúdo, em parte porque a amnésia reduz a quantidade de informação disponível e também porque as alterações semânticas apenas permitem um pensamento concreto.
Além destas alterações evidencia-se também uma fraca capacidade de manter um mesmo tópico de conversação e alterações ao nível da compreensão.
Apesar de a leitura em voz alta se manter até fases mais avançadas, a compreensão da leitura altera-se precocemente.
Em alguns casos a comunicação verbal faz-se de forma muito restringida, chegando mesmo ao mutismo.
As alterações na alimentação começam a aparecer quando, para pessoa com Alzheimer, não faz sentido ingerir alimentos.
O não reconhecimento dos alimentos aliado à dificuldade em utilizar os talheres/copo podem levar a um risco de malnutrição e desidratação.
Além disso, ocorrem frequentemente episódios de esquecimento de ingestão de alimentos e de dificuldades de deglutição/mastigação.
Estas dificuldades aparecem pelo fato de permanecerem com o alimento na boca por muito tempo sem saberem o que devem de fazer com ele e como o engolir.
Por estas questões a pessoa pode manifestar perda de interesse na alimentação sendo necessária a monitorização por parte dos cuidadores e profissionais de saúde envolvidos.
Neste árduo caminho que a pessoa com doença de Alzheimer e suas famílias atravessam, o Terapeuta da Fala e outros profissionais como o Terapeuta Ocupacional podem ser bons aliados para a reabilitação de capacidades que a pessoa tem vindo a perder, sobretudo para atuar preventivamente, de forma retardar o aparecimento de sintomas.
Bibliografia
Peña-Casanova, Jorge. Enfermedad de Alzheimer – Del diagnostico a la terapia: conceptos y hechos. Barcelona: Fundación “la Caixa”, 1999.
Peña-Casanova, Jorge. Enfermedad de Alzheimer – Actualización 2005. Barcelona, Fundación “la Caixa”, 2005.